Como é envelhecer mulher no Brasil?
“Envelhecemos a duras penas”, afirma a aposentada Maria Helena, 63 anos, integrante do grupo social Vida Plena do Sesc Goiás
De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais. O Brasil
tem 30,3 milhões de pessoas nessa faixa etária, número que representa 14,6% da
população do país. As mulheres são maioria expressiva nesse grupo, elas são
16,9 milhões, representando 56% dos idosos.
Os números expressivos das mulheres
idosas no Brasil, revelados pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), de
2017, levantam um debate pouco discutido na sociedade: a feminização da
velhice. Afinal, como é envelhecer mulher no país?
“A gente envelhece a duras penas.
Com a minha saúde eu costumo dizer que está tudo ótimo, temos uma coisinha aqui
ou ali, mas que faz parte da idade. Agora o que a sociedade precisa enxergar é que
somos pessoas úteis e capazes de contribuir com a comunidade”, explica a
aposentada Maria Helena Alves, 63 anos, integrante do grupo social Vida Plena
do Sesc Goiás.
Segundo ela, ser mulher é
sinônimo de resistência no Brasil. Ser uma mulher preta é sinônimo de batalha.
Agora, ser uma mulher preta e idosa, para ela não há palavras que possam
representar toda a sua luta.
“Eu choro por lembrar que ao longo
da minha vida eu não pude muitas coisas pelo fato de ser preta. Esses dias
mesmo, na porta do supermercado do meu bairro, chegou uma madame falando assim:
meu bem, você não sabe de alguém para trabalhar na minha casa? Claro que ela fez
aquela pergunta com a certeza de ouvir que eu estava precisando do emprego. Para
você talvez isso não significa nada, foi só uma pergunta, mas para mim eu tenho
a certeza que foi uma indireta por ser mulher preta”, disse.
Conforme os dados do IBGE, de
2018, são mais de 6 milhões de pessoas que executam tarefas de limpeza e
manutenção em residências domiciliares, 92% são mulheres. A maior parte, 63%, é
negra. E o número de trabalhadoras domésticas sem carteira assinada e mais
velhas vem aumentando no país.
Sobrecarga na mulher idosa
Quando a execução de tarefas domiciliares
não é na casa do outro, ela acontece na casa dos entes familiares. É muito
comum encontrar lares em que as mulheres idosas contribuam na educação dos netos
e ajudam no preparo das refeições, por exemplo. “Nós temos um estigma muito grande relacionado
a família, isso é muito triste, mas precisamos compreender levando em
consideração um contexto geral. As famílias em grande maioria precisam de um suporte
e contam com as idosas para isso”, explica a coordenador de Programas Sociais
do Sesc e Senac, Ana Paula Malta.
Segundo ela, as mulheres idosas
podem sim contribuir com os filhos e netos, mas desde que seja de uma forma prazerosa
e equilibrada. Ana Paula salienta que a pessoa idosa precisa ter o seu tempo
para aproveitar a atual fase da vida e realizar as atividades que gostam de
fazer, como música, dança, crochê, poesia, leitura e viagens.
“Não é errado querer a ajuda da
sua mãe, mas precisamos também estabelecer equilíbrios nessa relação. Além de
curtir os netos, a pessoa idosa também quer curtir o seu momento e isso precisa
ser respeitado e promovido para ele”, reforça a coordenadora.
Conselho da Maria Helena
A aposentada Maria Helena,
inclusive, aconselha a todas as mulheres idosas a aproveitar os melhores anos
da vida. “É claro que a gente ama os nossos filhos e netos, mas eu vivo com o
meu livro do Estatuto do Idoso em mãos e brinco com eles falando para terem
cuidado, porque eu tenho conhecimento dos meus direitos”, brinca.